domingo, 6 de dezembro de 2009

C.S. Lewis - Imagine um caramujo erudito





De onde vem essa predisposição das pessoas achar que Deus possa ser tudo, menos o Deus concreto, vivo, desejoso e atuante da teologia cristã? Acho que a razão é a seguinte. Vamos imaginar um caramujo totalmente erudito, um verdadeiro guru entre os caramujos, que (em uma visão arrebatadora) consegue ver, ainda que de relance, o que é um ser humano.
Na tentativa de transmitir suas visões aos seus discípulos, os quais já tem seus próprios conceitos sobre o assunto (ainda que menos informados do que ele), ele terá de usar muitas negações. Terá que lhes dizer que nenhum ser humano vive em uma concha; que não vive rodeado de água etc. E os discípulos que tiverem alguma visão, certamente, acabarão captando a idéia do que seja o ser humano.

O problema é que chegam então os caramujos intelectuais, eruditos, que escrevem histórias da filosofia e dão palestras sobre religiões comparadas, mas que nunca tiveram visão por si mesmos. Tudo o que eles conseguem extrair das palavras proféticas do caramujo são apenas os aspectos negativos, tudo isso sem o corretivo de um olhar positivo. Eles constroem, assim, uma imagem do homem como se fosse uma espécie de gelatina atmorfa (ela não possui concha), que não existe em um lugar específico (muito menos grudada em alguma pedra), e que jamais se alimenta (não há ondas fazendo o alimento chegar até ela). E, fiéis a sua reverência tradicional pelo homem, eles concluem que ser uma gelatina subnutrida, que vive num vácuo sem dimensões, seja o modo supremo de existência. Assim, rejeitam como grotesca, materialista e supersticiosa toda toda doutrina que atribua ao homem uma forma, uma estrutura e um sistema orgânico definidos. (C.S. Lewis - Livro: Um ano com C.S. Lewis)

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