quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O pecado principal - C.S. Lewis



EXISTE um único pecado do qual nenhum ser humano está livre e que todos odeiam. Ninguém neste mundo está livre desse pecado quando o vê em outra pessoa; dificilmente alguma pessoa que não seja cristã imagina que um dia possa ser acusada desse pecado. Já ouvi pessoas admitindo que têm mau humor ou que sejam covardes. Mas não acho que tenha ouvido uma pessoa que não seja cristã, acusar-se desse pecado. E, ao mesmo tempo, muito raramente encontrei qualquer outro ser humano que não fosse um cristão, mostrando a menor misericórdia para com isso nas outras pessoas. Não há falha humana que torne o homem menos popular, e nenhuma da qual estejamos menos conscientes.

O pecado a que estou me referindo é o do orgulho e da presunção. E a virtude contrária a ele na moral cristã chama-se humildade. Talvez você se recorde de que, ao falar da moral sexual, disse que esta não constituía o centro da moral cristã. Com isso chegamos ao nosso ponto central. Dizem os educadores cristãos, que o pecado principal, a mais hedionda maldade, chama-se orgulho. Falta de caridade, raiva, ambição, bebedeira e tudo o que mais não passam de bagatelas em comparação a ele. Foi pelo orgulho que o Diabo se transformou em Diabo. O orgulho leva a todos os demais pecados: trata-se de um estado mental anti-Deus.

- de Cristianismo Puro e Simples

Encontrando conforto - C.S. Lewis



NÃO ESTOU pedindo nada além de que as pessoas encarem os fatos e compreendam as questões para os quais o cristianismo afirma ter a resposta. Tratam-se de fatos bem aterradores.Gostaria até de ser capaz de dizer algo mais agradável, mas sou obrigado a dizer o que sei ser a verdade. É claro que eu concordo que a religião cristã seja, a longo prazo, algo que proporciona um conforto que não tem palavras para expressar. Mas ela não começa pelo conforto, e, sim, pelo espanto que descrevi a pouco. Não serve para nada seguir em direção a esse conforto, sem passar antes pela experiência do espanto.
Na religião, da mesma forma como na guerra e tudo o mais, satisfação é uma das coisas impossíveis de se conquistar enquanto procuramos por ela. Mas quando você busca a verdade, é possível que ache satisfação no final. Se você busca a satisfação, não conquistará nem a satisfação nem a verdade - só o que encontrará será um sabão escorregadio e falsas esperanças. Enfim, encontrará apenas desespero.

- Cristianismo Puro e Simples

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A Grande Arma - C.S. Lewis





POR um lado, a morte é o triunfo de Satanás, a punição pela Queda e o último inimigo. Cristo derramou lágrimas no túmulo de Lázaro e suou sangue no Getsemâni. A Vida das vidas que estava nele não odiou menos do que nós este castigo obsceno, mas muito mais.

Por outro lado, somente quem perde a sua vida ganha-la-á. Somos batizados na morte de Cristo, e este é o remédio para a Queda. Na verdade, a morte é que alguns indivíduos hoje chamam de "ambivalente". Ela é a grande arma de Satanás e, ao mesmo tempo, a grande arma de Deus: é sagrada e profana; nossa suprema desgraça e a nossa única esperança; aquilo que Cristo veio para conquistar e o meio pelo qual ele conquistou.

 - de Miracles (Milagres)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O testemunho apostólico - C.S. Lewis




NOS primeiros dias do cristianismo, um "apóstolo" era, antes e acima de tudo, alguém que afirmava ser uma testemunha ocular da ressurreição.
Poucos dias depois da crucificação, quando dois candidatos para a vaga criada pela traição de Judas, a qualificação exigida era ter conhecido a Jesus pessoalmente antes e depois de sua morte, e ser capaz de oferecer evidências "de primeira mão" da ressurreição ao comunicar o evangelho a outros (Atos 1:22). Alguns dias depois, Pedro, pregando o seu primeiro sermão cristão afirma o mesmo: " A este Jesus Deus ressuscitou, do que nós somos testemunhas" (Atos 2:32). Na primeira carta aos Coríntios, Paulo baseia a sua reivindicação ao apóstolo sobre a mesma base: "Porventura, não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor?" (Atos 9:1).

Como essa auto-explicação sugere, pregar o Cristianismo significava primeiramente pregar a ressurreição. [...] Este é o tema central em todos os sermões cristãos relatados no livro de Atos. A ressurreição e a suas conseqüências era o "evangelho", ou boas novas, que os cristãos comunicavam. O que chamamos de "evangelhos", as narrativas da vida e morte do nosso Senhor, foram escritos mais tarde para o benefício daqueles os que já eram convertidos. O milagre da ressurreição e a sua teologia vem primeiro; a biografia vem depois, como um comentário sobre a própria ressurreição. O primeiro fato na história do cristianismo é um grupo de pessoas que insiste em dizer que viram a ressurreição. Se elas tivessem morrido sem fazer com que outros acreditassem nesse "evangelho", nenhum dos evangelhos jamais teria sido escrito.

(Milagres)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Perto da fonte - C.S. Lewis



“Não há outro caminho que nos conduza à Felicidade para a qual fomos feito. Tanto as coisas boas como as ruins, você sabe, são contagiantes. (…) Se quiser se molhar, tem de entrar na água. Não se trata de alguma espécie de prêmio que Deus pudesse, se assim o desejasse, simplesmente passar adiante para alguém. É uma grande fonte de energia e beleza que jorra a partir do centro da realidade. Se você estiver perto dessa fonte, a névoa úmida vai atingí-lo e o molhará; se ficar longe, se manterá seco. Uma vez unido a Deus, como um ser humano poderia não viver para sempre? Uma vez separado de Deus, o que ele poderia fazer a não ser murchar e morrer?”


C.S. LewisCristianismo puro e Simples

Não havia lugar...




Lucas 2:7 diz que “e ela deu `a luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria”.


É impressionante pensar que NÃO HAVIA LUGAR para eles na hospedaria. Um projeto de Deus, uma missão de Deus, algo gerado por Deus, não encontrou lugar no hotel, onde havia a estrutura ideal. Mas sim, numa estrebaria simples e humilde, sem a estrutura apropriada, mas que se abriu, dando lugar ao plano celestial.

Talvez a hospedaria, o hotel, cheio de camas arrumadas, banheiro e “geladeira” no quarto, não esperava que os hóspedes batessem na porta tão tarde naquela noite. Ou quem sabe também não era uma hospedaria do tipo que aceita o barulho das crianças, ou um certo “tipo de gente” vinda de Nazaré. Quantas vezes nós temos tanta estrutura, mas não damos lugar aos propósitos de Deus porque Ele vem de modo inesperado, e não Se ajusta `as formas e projetos humanos. Ou quem sabe já nos abarrotamos de outros tantos projetos, e não damos lugar quando Deus bate `a nossa porta.

Pode ser que ainda hoje Deus continue encontrando lugar na “estrebaria” e não na “hospedaria”. E se você pensa que é alguém sem condições de receber e participar em algo que Deus está fazendo na Terra hoje, talvez você seja o “lugar” escolhido, por simplesmente se abrir e deixá-Lo entrar. Afinal, Deus escolheu as coisas que não são para confundir as que são, não é mesmo? Ele as reduz a nada e é glorificado! Regozije-se em simplesmente ser uma estrebaria!

Voltando meus olhos para o capítulo anterior, Lucas 1, li sobre a visita do anjo Gabriel `a jovem Maria. Fiquei mais uma vez impressionada com o diálogo entre eles, e com a tremenda resposta que ela deu ao chamado celestial.

Lucas 1:38 “Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a Tua palavra. E o anjo se ausentou dela”.

Eu sempre imagino como seria se a resposta de Maria tivesse sido diferente. Será que outras jovenzinhas foram ou teriam sido procuradas? Mas ela aceitou o chamado divino. Gabriel pôde voltar para Deus e dizer a Ele que havia encontrado lugar para o Seu filho vir ao mundo!

Maria se sujeitou `a vontade de Deus, ainda que houvesse um preço a pagar. As condições de uma mulher grávida não casada naquele tempo eram terríveis. E para gerar vida o corpo da mulher passa por muitas mudanças, ajustes, peso, pressão, e afinal, dores. Ela se dispôs e creu que o impossível aconteceria, segundo a palavra que lhe havia sido dita. Maria deu lugar a Deus em sua vida, e literalmente gerou o propósito de Deus em seu ventre, ainda que isso pudesse lhe custar tudo.

Nós também podemos escolher se vamos dar lugar a Deus em nossas vidas, em nossas estruturas, ainda que isso signifique uma visita inesperada do céu que bata à nossa porta no meio da noite, bagunçando nossa calmaria e tranquilidade. Um projeto divino que custe nosso conforto, segurança, e que mude nosso plano de vida completamente. Pode ser que signifique arriscar nossa reputacão e planos de segurança. Podemos escolher ser uma simples estrebaria, uma jovenzinha totalmente dependente do sobrenatural, mas que dão lugar ao plano de Deus.

Se dermos lugar a Deus corremos sérios riscos, mas participaremos do céu aqui na Terra. Que privilégio! E poderemos cantar como cantou Maria: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas”. Lc 2: 46-48.
 
A glória será totalmente dada ao Senhor, pois em nós mesmos não serão encontradas condições naturais que expliquem o cumprimento do projeto divino, senão tão somente uma total dependência e disponibilidade.

QUE DEUS ENCONTRE LUGAR EM NÓS!



quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nesse ponto da história - C.S. Lewis





ACREDITAMOS que a morte de Cristo é o ponto preciso da história em que algo absolutamente inimaginável, que veio de fora (da nossa dimensão), se revela ao nosso próprio mundo. E, se não temos como visualizar nem mesmo os átomos dos quais nosso mundo é construído, é claro que não estamos em condições de compreender isso. Com efeito, se achássemos que poderíamos compreender isso. Com efeito, se achássemos que poderíamos compreender  este grande evento de forma completa, esse fato nos mostraria que o evento não era lá tão grande assim: tão inimaginável, tão"incriado", tão estranho à natureza, caindo sobre a terra como um raio.

Você pode se perguntar que benefício isso pode nos trazer se não compreendemos este grande evento.Mas a resposta é fácil. Uma pessoa pode aceitar o que Cristo fez por ela sem saber como isso se processa - na verdade, ela certamente não saberia como isso funciona até que tenha aceitado o fato.
Aprendemos que Cristo foi morto por nós, que a sua morte lavou os nossos pecados e que, morrendo ele venceu a morte. Essa é a fórmula. Eis aí o verdadeiro cristianismo. É nisso que temos de acreditar.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Visões ofuscadas de Deus - C.S. Lewis






TRATANDO-SE de conhecer a Deus, a iniciativa veio da parte dele. Se ele não se mostra, não há nada que você possa fazer para encontrá-lo. E, de fato, ele se revela muito mais a certas pessoas do que a outras, não porque faça acepção, mas porque é impossível que ele se mostre por completo a um ser humano cuja mente e cujo caráter estão em péssimas condições. É como a luz do sol que, embora não tenha preferências, não consegue refletir-se num espelho sujo de forma tão clara quanto num espelho limpo.
Você pode colocar isso de uma outra forma, dizendo que, enquanto em outras ciências os instrumentos são coisas externas a você mesmo (como microscópios e telescópios), o instrumento por meio do qual você vê a Deus é o seu ser. E se esse "ser" não for mantido limpo e luminoso, seu olhar para Deus ficará obscurecido - à semelhança da lua vista num telescópio sujo. Eis por que nações horríveis tem religiões horríveis: elas sempre olhavam para Deus com lentes sujas.

- de Mere Christianity (Cristianismo Puro e Simples)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Essa coisa chamada eu - C.S. Lewis




ADMITO que (em outras palavras) isso significa amar pessoas que não tem nada de amável. Mas será que alguma pessoa tem algo de amável? Você se ama simplesmente porque é você mesmo. Deus quer que amemos todas as pessoas da mesma forma e pela mesma razão. Ele nos deu a fórmula pronta, no nosso caso, para nos mostrar como a coisa funciona. O que temos de fazer então é ir em frente e aplicar a regra a todos os outros. Quem sabe isso torne tudo mais fácil, se lembrarmos que é assim que Deus nos ama. Não por quaisquer qualidades atrativas que imaginamos ter, mas só porque somos algo chamado "eu". Na realidade, não há mais nada de amável em nós; somos criaturas que tem tanto prazer no ódio, que abrir mão dele seria para nós tão difícil quanto abrir mão da bebida ou do cigarro.

- de Mere Christianity (Cristianismo Puro e Simples)

Santas intenções - C.S. Lewis



A IDÉIA cristã do casamento baseia-se nas palavras de Cristo de que um homem e sua esposa devem ser considerados um único organismo - pois é isso que a expressão "uma só carne" significa. E os cristãos acreditam que, se Deus disse isso, não estava dando expressão a nenhum sentimento, mas constatando um fato - da mesma forma como uma pessoa constata um fato quando diz que a fechadura e a chave formam um só mecanismo, ou que um violino e o seu arco são um só instrumento musical. O inventor da máquina humana estava querendo nos dizer que as duas metades, a masculina e a feminina, foram feitas para combinarem não simplesmente ao nível sexual fora do casamento está em que os que cedem ao desejo então, com isso, tentando isolar um tipo de união (a sexual) de todos os outros tipos de união que foram pensados para acompanhá-la e maquiar a união total. A atitude cristã não significa que não haja alguma coisa errada quanto ao prazer sexual, mais do que o prazer de comer. Significa que você não deve isolar aquele prazer e buscá-lo por si mesmo, da mesma forma que não deve buscar os prazeres do paladar, sem engolir e digerir, mastigando os alimentos e vomitando-os.

- de Mere Christianity (Cristianismo Puro e Simples)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Sem exceções - C.S. Lewis



NO QUE diz respeito aos meus próprios pecados, é bastante segura (ainda que incerta) a aposta de que minhas desculpas não são tão boas quanto eu imagino. Por isso temos que começar por prestar atenção a tudo que possa mostrar que o outro não merece tanta censura quanto nós achávamos. Mas mesmo se ele se mostrar absolutamente culpado, continuamos tendo de perdoá-lo; e ainda que noventa e nove por cento da sua culpa aparente possa ser explicada por desculpas realmente convincente, o problema do perdão começa com aquele que um por cento de culpa que ainda resta. Desculpar o que pode realmente ter uma boa desculpa não é caridade cristã, é apenas justiça. Ser cristão significa  perdoar o indesculpável, porque Deus perdoou o indesculpável em você.

Isso é duro.Talvez não seja tão quanto perdoar uma única, porém, grande injúria. Mas como seríamos capazes de perdoar as persistentes provocações do cotidiano (persistir em perdoar a sogra mandona, o marido tirano, a esposa implicante, a filha egoísta e o filho salafrário)? Só mesmo, acredito eu, colocando-nois no nosso lugar, dizendo sinceramente o conteúdo das nossas orações noturnas: "Perdoa os nossos pecados, assim como nós perdoamos os nossos devedores". O perdão não nos é oferecido em nenhum outro termo. Recusá-lo significa recusar a graça de Deus para nós mesmo. Não há indícios de exceções, e Deus sabe bem do que está falando.

- de The Weight of Glory (Peso de Glória)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O começo da nova criação - C.S. Lewis





A RESSURREIÇÃO não foi considerada simples como uma evidência da imortalidade da alma. Ela é, naturalmente, considerada hoje desse modo com bastante frequência: ouvi alguém sustentar que a "importância da ressurreição é o fato de provar a sobrevivência". Tal ponto de vista não pode ser conciliado, em nenhum lugar, com a linguagem do Novo Testamento.

A partir dessa visão, Cristo simplesmente teria feito o que todo os seres humanos fazem quando morrem; a única novidade teria sido que no seu caso, tivemos o privilégio de apreciar o acontecimento. Não existe, porém, nas Escrituras a menor sugestão de que a ressurreição tenha sido uma nova evidência para algo que de fato estivesse ocorrendo. Os autores do Novo Testamento falam como se a façanha de Cristo em levantar-se dos mortos tivesse sido o primeiro evento desse tipo em toda a história do universo. Ele representa as "primícias", o "pioneiro da vida". Cristo arrombou uma porta que esteve fechada desde a morte do primeiro ser humano. Ele encarou o rei da morte, lutou com ele e o derrotou. Tudo é diferente pelo fato de ele ter feito isso. Este é o início da nova criação - um novo capítulo da história cósmica foi aberto.

- de Miracles (Milagres)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Uma distinção crítica - C.S. Lewis





TODO mundo conhece e está cansado de repetir a declaração cristã de que "Deus é amor". Mas eles parecem não perceber que as palavras "Deus é amor", não tem sentido verdadeiro a menos que Deus contenha pelo menos duas pessoas. Amor é algo que uma pessoa tem pela outra. Se Deus fosse um só, então ele não podia ter sido amor antes de o mundo ser criado. É claro que o que essas pessoas querem dizer quando falam que "Deus é amor" é bem diferente; elas querem dizer, na verdade, que "o amor é Deus". Elas acreditam que a atividade viva e dinâmica do amor tem avançado em Deus para sempre e que ela criou todo o resto.

E essa, aliás, talvez seja a mais importante diferença entre o cristianismo e todas as demais religiões: no cristianismo Deus não nenhuma coisa estática - nem mesmo é uma pessoa só - e sim, uma atividade pulsante dinâmica, quase que uma espécie de peça de teatro. Ele é praticamente, se isso não for uma falta de reverência total, um tipo de dança.

- de Cristianismo Puro e Simples.

Não como um rio, mas como uma árvore - C.S. Lewis





NÃO VIVEMOS num mundo em que todas as estradas são raios de um círculo e, se seguidas por uma longa distância, se aproximarão gradativamente para se encontrarem no centro. Na verdade, vivemos num mundo em que toda estrada se bifurca em duas para em seguida bifurcar-se daí a mais alguns passos (e cada uma delas, por sua vez, se bifurca em duas novamente). E cada encruzilhada exige que você tome uma nova decisão. Mesmo no nível biológico, a vida não é como um rio, mas se assemelha muito a uma árvore. A vida não se move em direção à unidade e, sim para longe dela. E a medida em que crescem em perfeição, as criaturas vão se afastando cada vez mais umas das outras. O bem conforme amadurece, vai tornando cada vez mais distinto não apenas do mal, mas também de outro bem.
 - de The Great Divorce (O Grande Abismo)

O verdadeiro certo e errado - C.S. Lewis





SEMPRE que você encontra uma pessoa que diz que não acredita em certo e errado, você observará essa mesma pessoa se contradizendo minutos mais tarde. Ela pode até quebrar uma promessa feita a você, mas experimente tentar quebrar uma com ela. Provavelmente essa pessoa ficará se queixando de que "isso não é justo". Uma nação pode até dizer que pouco se importa com tratados, mas depois no minuto seguinte, põe a causa a perder, alegando que aquele tratado particular que ela quer quebrar, era injusto mesmo. Mas se não importam os acordos e não há tal coisa como certo e errado (em outras palavras, se não há lei da natureza), qual seria a diferença entre um acordo justo e um injusto? Serpa que eles não vão dar com os burros n´água? Será que não estão dando mostras claras de que, não importa a bobagem que digam, na realidade conhecem a lei da natureza como qualquer outra pessoa?

Parece, então, que sonos forçados a acreditar que exista mesmo um certo e errado. As pessoas podem muitas vezes enganar-se a respeito disso, da mesma forma que muitas vezes erram nas contas. Mas o certo e o errado não são nenhuma questão de gosto ou opinião, muito menos, de tabuada.
- de Mere Christianity (Cristianismo puro e Simples)

Incontáveis milhões - C.S. Lewis


EIS AQUI outra coisa que me deixa intrigado. Você não acha tremendamente injusto que essa nova vida seja restrita aos que ouviram falar de Cristo e assim puderam acreditar nele? Mas a verdade é que Deus não nos disse quais são os seus planos para as outras pessoas. Sabemos muito bem que ninguém pode ser salvo a não ser por meio de Cristo; não sabemos se somente aqueles que o conhecem podem ser salvos por meio meio dele. No entanto, se você estiver preocupado com as pessoas de fora, a coisa mais irracional que você pode fazer é permanecer também do lado de fora. Os cristãos representam o corpo de Cristo, o organismo por meio do qual ele trabalha. Cada acréscimo a esse corpo permite que Cristo faça mais. Se você quiser ajudar aqueles que estão de fora, terá de acrescentar a sua pequena célula ao corpo de Cristo, que é o único capaz de ajudá-los. Cortar fora o dedo de uma pessoa seria uma estratégia estranha para fazê-lo trabalhar mais.

- de Mere Christianity (Cristianismo Puro e Simples)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Oferecendo a outra face? - C.S. Lewis




Há três maneiras de se entender o mandamento de oferecer a outra face. Uma é a interpretação pacifista: ele significa o que se está dizendo literalmente - o dever da não resistência em relação a todos os seres humanos em qualquer circunstância. Outra é a interpretação reducionista: o mandamento não quer dizer exatamente o que está dizendo; trata-se, antes, de alguma forma oriental exagerada de dizer que você deveria suportar muita coisa e dar-se por satisfeito. Tanto você quanto eu concordamos em rejeitar essa visão. O conflito se dá, portanto, entre a interpretação pacifista e a terceira que proporei agora. Acredito que o texto queira dizer exatamente o que diz, mas com uma margem compreensível a favor daqueles casos claramente excepcionais, que todo mundo naturalmente consideraria exceções, sem que fosse necessário alguém dizê-lo [...] Isto é, na medida em que os únicos fatores relevantes no caso fossem uma injúria praticada contra mim por algum vizinho e um desejo de retaliação da minha parte, então creio que o cristianismo ordena a mortificação absoluta desse desejo. Não se deve dar um só pingo de atenção aquela vozinha que possa dizer dentro de nós: "Ele fez isso ou aquilo comigo, então devo retribuir na mesma moeda

- de The Weight of Glory (Peso de Glória - C.S. Lewis)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Orgulhoso demais para conhecer a Deus - C.S. Lewis






OS CRISTÃOS têm razão: o orgulho tem sido a principal causa da miséria em todas as nações e em todas as famílias, desde que o mundo é mundo. Outros vícios podem até unir as pessoas. Você poderá encontrar um bom companheiro, contar piadas e ver cordialidade até mesmo entre bêbados ou pessoas desonestas. Mas o orgulho sempre significa inimizade - ele é inimizade. Inimizade não apenas entre seres humanos, mas inimizade contra Deus.

Em Deus nos deparamos com algo que é incomparávelmente superior a nós, em todos os sentidos. Se você não conhece a Deus dessa maneira - e, portanto, não se reconhece como um nada em comparação a ele  -simplesmente você não conhece a Deus. Uma pessoa orgulhosa está sempre olhando de cima para baixo para os outros. É claro que, enquanto você se mantiver olhando para baixo, não terá como enxergar o que se encontra acima de sua cabeça. ( C.S. Lewis - Cristianismo Puro e Simples)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Devemos ser como Pássaros - C.S. Lewis




Assim é a nossa vida aqui. A coisa que lhe dá horror, que lhe parece quase impossível, é entregar todo o seu ser — todos os seus desejos e precauções — a Cristo. Mas isso é muito mais fácil que aquilo que todos nós tentamos fazer. Pois o que cada um tenta fazer é continuar sendo aquilo que chama de “ele mesmo”, é continuar tendo a felicidade pessoal como grande objetivo na vida, e ao mesmo tempo ser “bom”. Cada um tenta deixar que sua mente e seu coração sigam seus próprios caminhos — centrados no dinheiro, no prazer ou na ambição —, e apesar disso tem a esperança de se comportar de modo honesto, casto e humilde. Mas é exatamente isso que Cristo nos advertiu que não se pode fazer. Como ele disse, não se geram figos dos abrolhos.


Se sou um campo que só contém sementes de capim, não posso produzir trigo. Se o capim for cortado, pode até permanecer baixo: mas nem por isso vou produzir trigo em vez de capim. Se quiser produzir trigo, a mudança terá de ser mais profunda. Meu campo terá de ser carpido e depois semeado com sementes novas.
É por isso que o verdadeiro problema da vida cristã se apresenta num contexto em que geralmente não esperamos encontrá-lo: apresenta-se no momento mesmo em que você acorda de manhã. Todos os seus desejos e esperanças para aquele dia avançam em sua direção como bestas selvagens. E, a cada manhã, sua primeira tarefa é simplesmente a de repeli-los; é a tarefa de ouvir aquela outra voz, assumir aquele outro ponto de vista, abrir caminho para aquela outra vida, uma vida maior, mais forte e mais silenciosa. E assim também no restante do dia: distanciar-se de todas as suas manhas e ressentimentos naturais; sair do vendaval.
No começo, só nos é possível fazer isso por alguns instantes. Mas, a partir desses instantes, esse novo tipo de vida se dissemina pelo nosso organismo: pois agora deixamos que ele trabalhe sobre a parte correta do nosso ser. E essa a diferença que existe entre uma tinta, que se deposita simplesmente sobre a superfície, e um pigmento ou tintura que penetra no fundo. As palavras dele nunca foram vagas e idealistas. Quando disse “Sede perfeitos”, ele estava falando sério.
Queria dizer que temos de fazer o tratamento completo. Não é fácil: mas a solução de meio-termo pela qual ansiamos é muito mais difícil - na verdade, impossível. Pode ser difícil para um ovo transformar-se numa ave; mas seria muitíssimo mais difícil aprender a voar sem deixar de ser ovo.
Atualmente, nós somos como ovos. O problema é que ninguém pode continuar sendo um simples ovo para sempre. Ou o pássaro quebra a casca ou o ovo apodrece.
…Nisso está todo o cristianismo. Não há mais nada.


- Cristianismo Puro e Simples

C.S. Lewis - Imagine um caramujo erudito





De onde vem essa predisposição das pessoas achar que Deus possa ser tudo, menos o Deus concreto, vivo, desejoso e atuante da teologia cristã? Acho que a razão é a seguinte. Vamos imaginar um caramujo totalmente erudito, um verdadeiro guru entre os caramujos, que (em uma visão arrebatadora) consegue ver, ainda que de relance, o que é um ser humano.
Na tentativa de transmitir suas visões aos seus discípulos, os quais já tem seus próprios conceitos sobre o assunto (ainda que menos informados do que ele), ele terá de usar muitas negações. Terá que lhes dizer que nenhum ser humano vive em uma concha; que não vive rodeado de água etc. E os discípulos que tiverem alguma visão, certamente, acabarão captando a idéia do que seja o ser humano.

O problema é que chegam então os caramujos intelectuais, eruditos, que escrevem histórias da filosofia e dão palestras sobre religiões comparadas, mas que nunca tiveram visão por si mesmos. Tudo o que eles conseguem extrair das palavras proféticas do caramujo são apenas os aspectos negativos, tudo isso sem o corretivo de um olhar positivo. Eles constroem, assim, uma imagem do homem como se fosse uma espécie de gelatina atmorfa (ela não possui concha), que não existe em um lugar específico (muito menos grudada em alguma pedra), e que jamais se alimenta (não há ondas fazendo o alimento chegar até ela). E, fiéis a sua reverência tradicional pelo homem, eles concluem que ser uma gelatina subnutrida, que vive num vácuo sem dimensões, seja o modo supremo de existência. Assim, rejeitam como grotesca, materialista e supersticiosa toda toda doutrina que atribua ao homem uma forma, uma estrutura e um sistema orgânico definidos. (C.S. Lewis - Livro: Um ano com C.S. Lewis)

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Deus Domesticado - C.S. Lewis


CS Lewis: O Deus Domesticado


cslewis01
Uma razão por que muitas pessoas acham a teoria da evolução tão atraente é que ela nos proporciona o grande consolo emocional de acreditar em um Deus sem termos que assumir nenhuma conseqüência. Quando você se sente disposto e o sol brilha, e você não quer acreditar que o universo todo não passa de uma mera dança mecânica de átomos, é bom estar em condições de pensar nessa grande força misteriosa como uma onda gigantesca que se move através dos séculos, carregando você na crista dela. Se, por outro lado, você estiver a fim de cometer um ato muito feio, aquela Força Vital, que não passa de uma energia cega, amoral e desprovida de mente, jamais irá interferir na sua vida da mesma forma como faz aquele Deus terrível, do qual ouvimos falar na infância. A Força Vital é uma espécie de deus domesticado. Podemos acioná-la quando bem entendemos, desde que ela não interfira nas nossas vidas. Podemos, assim, usufruir de todas as emoções da religião, sem nenhum custo.  Seria essa Força Vital a maior expressão de falsa esperança que o mundo já viu?  - Cristianismo Puro e Simples - C.S. Lewis

Comentários: Ao ler o livro "As Crônicas de Nárnia", por diversas vezes o Autor referindo-se ao Grande Leão Aslam, cita a frase "Ele não é um leão domesticado" .  Ligamos essa expressão a Bíblia referindo-se ao Deus Vivo.  Por diversas vezes "domesticamos" Deus a nossa maneira para que Ele seja do nosso jeito e atenda as nossas necessidades e ainda domesticamos a nossa fé.
O cristão ao freqüentar uma igreja atualmente, ele não quer ouvir aquilo que Deus entende necessário ao bem estar dele e sim aquilo que ele quer ouvir pra sentir-se bem para a sua semana ser abençoada.  Temos feito Deus a nossa maneira como "O Deus Domesticado"?

Já pensou dar de cara com Ele? (C.S Lewis)

É sempre chocante encontrar a vida quando pensamos estar sós. "Venha ver!", gritamos, "está vivo!". É nesse exatamente nesse momento que muitos recuam - eu teria feito o mesmo se pudesse - e deixam de buscar o Cristianismo. Acreditar em um "Deus impessoal" - tudo bem. Em um Deus subjetivo, fonte de toda a beleza, verdade e bondade, que vive na mente das pessoas - melhor ainda.Em alguma energia gerada pela interação entre as pessoas, em algum poder avassalador que podemos deixar fluir - o ideal. Mas sentir o próprio Deus vivo, puxando do outro lado da corda, aproximando-se em uma velocidade infinita, o caçador, rei, marido - é outra coisa. Há um momento em que as crianças que estão brincando de polícia e ladrão, de repente, ficam quietas e uma sussurra para a outra: "Você ouviu aqueles passos no corredor?". Chega uma hora em que as pessoas que ficam brincando com a religião ("a famosa busca do homem por Deus"), de repente voltam atrás:    " Já pensou se O encontrássemos mesmo? Não é essa nossa intenção! E, o pior de tudo, já pensou se Ele nos achasse?" (C.S Lewis - Livro: Um ano com C.S. Lewis)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

PR. ISALTINO GOMES COELHO FILHO: NÃO DÁ PARA TRATAR BATATA COMO ALFACE

Mensagem edificante do Pastor Isaltino. Vale a pena ler!



R. ISALTINO GOMES COELHO FILHO: NÃO DÁ PARA TRATAR BATATA COMO ALFACE


Culinariamente não dá mesmo. A batata deve ser descascada e cozida ou frita. Alface não. Com sal e um bom azeite português por cima já está boa.



O título vem de uma observação de Peter Kreeft, catedrático de filosofia no Boston College e no King’s College, no livro “Jesus, o maior filósofo que já existiu”. No capítulo “A antropologia de Jesus”, ele diz: “O liberalismo secular (termo enganoso, pois não é realmente libertador) (...) nega a realidade do pecado pessoal e acha que o homem é um pé de alface, não uma batata.



A alface apodrece de fora para dentro, a batata, de dentro para fora. Por essa razão, a solução dele é sempre uma solução ‘alface’: façamos isso ou aquilo, melhoremos o ambiente social, coloquemos algum dinheiro nas estruturas sociais ou condicionemos as pessoas com uma educação melhor. Eles são como os fariseus que limpam o exterior, mas ignoram a podridão interior (Mateus 23.25-26). Alguém definiu o liberal como aquele que exige o direito de respirar ar puro para que possa proferir palavras sujas”.

Esta definição de liberal me lembrou alguns grupos que exigem direito de expressão e, atingindo o poder, negam este direito aos seus discordantes. Desde grupos políticos a minorias sexuais, criando a ditadura da minoria. Como gente que lutou contra o regime militar brasileiro e apoia a ditadura mumificada cubana. Seria interessante traduzir “Cálice”, de Chico Buarque, e cantá-lo em Cuba, na China e na Coréia do Norte. As múmias no poder, nestes países, permitiriam? Há gente que exige liberdade de expressão e exige restrições a quem não aceita sua posição. Como fizeram com a psicóloga Rosângela, perseguida pela Gaystapo.



Voltemos à batata e alface. O problema do homem é mais que questão ambiental, cultural e social. É interno, de raízes. Não é um problema alface, mas um problema batata. O mal não é externo, mas interno no homem. Deus disse isso claramente: “Porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gênesis 8.21). E Davi corroborou: “Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmo 51.5). O róseo e cheiroso bebê já tem o pecado potencialmente dentro de si. E este se manifestará no seu tempo.



Chesterton ironizou os pregadores liberais de Londres, que criam na santidade de Deus e na bondade dos homens: “Admitem a ausência de pecado em Deus, que não podem ver nem em sonhos. Mas eles essencialmente negam o pecado humano, que eles podem ver na rua” (“Ortodoxia”). O pecado está diante dos olhos, nas ruas, na tevê, na Internet, em nossas atitudes. Crer na bondade humana e crer que nossos problemas são externos é ingenuidade. Mais educação, melhor distribuição de renda, melhores condições habitacionais, mais lazer, tudo isso é bom. Eu mesmo quero mais educação, mais renda, casa melhor (embora a minha seja muito boa) e mais lazer para mim mesmo. Porém, meu problema maior é o pecado que habita em mim. Faço minhas as palavras de Paulo: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim” (Romanos 7.19-20).



Infelizmente, o pecado sumiu da pregação contemporânea. Muito púlpito trocou a Bíblia pela auto-ajuda. A preocupação não é anunciar todo o conselho de Deus, mas fidelizar clientes, pois pecado não dá ibope. Não podemos fazer Teologia e pregar o Evangelho esquecendo-nos da doutrina da queda. Ela é básica para uma visão correta do mundo. O homem não é uma alface, mas uma batata. Seu problema é interno. Sua podridão não é social, mas pecaminosa. Que a igreja não deixe isso de lado.



PASTOR ISALTINO GOMES COELHO FILHO

Começando um novo post...

Este é meu blog. Por aqui sempre surgirão mensagens edificantes e novidades do mundo evangélico.