quinta-feira, 9 de junho de 2011

Onde Deus está? - Rafael Rocha



Como trabalho com palavras, tenho o costume de observá-las, repará-las e avaliá-las bem antes de empregá-las em um texto. E isso se reflete quando vou cantar uma canção: minha mente, de forma quase que automática, processa o que está sendo dito/cantado e verifica se aquilo é verdade em minha vida. Caso não seja, eu paro de cantar ou adapto a letra à minha verdade. Coisa bem minha.


Nesses dias, estive reparando na música “Glória”, do cd “Aleluia”. Que letra mais difícil de se cantar! Confesso que me sinto incomodado pelo fato de muita gente não reparar naquilo que canta. Cantam, como se diz popularmente, “da boca pra fora”. E ignoram o complicado e belo sentido que a canção traz.

Para quem não conhece (ou não reparou), vai aí a letra da música. Fica mais fácil prestar atenção quando você a lê, sem qualquer melodia:

“Alguém pergunta: onde Deus está? / Nações se abalam, tudo passará / Mas minha rocha não se moverá / Meu coração não vai parar de adorar / Eu vou dançar sobre toda dor / O Senhor deu e o Senhor tomou / Eu vou dançar sobre toda dor / Bendito seja o nome do Senhor / Glória! Glória! Glória a Ti, Senhor”
Vou falar dos trechos que mais me prendem a atenção. “Meu coração não vai parar de adorar” é um deles. Você pode contar quantas vezes, por qualquer motivo, você já parou de adorar? Não falo de cantar ou de adotar uma postura externa conhecida como “adoração”. Isso não existe. Adorar a Deus é uma realidade que se dá no coração.

Reconheço que, muitas vezes, eu já me vi distante do Amor do Pai. E porque eu me afastei. O mais cruel disso tudo é notar que a gente se distancia mais na hora da alegria do que na hora da dor. Então cantar “meu coração não vai parar de adorar” na hora da dor implica que ele não pare de adorar na hora da alegria também. Apesar de a nossa mente não captar isso muito bem, é muito mais comum a gente se esquecer de Deus quando tudo vai bem do que quando tudo vai mal. Quando a situação está tensa, precisamos de um porto seguro em que nos apegar.



O outro trecho que me incomoda é “eu vou dançar sobre toda dor”. Eu não tenho tanta certeza de que consigo experimentar tal verdade: dançar sobre a dor. Dançar sobre a dor, cantando “Glória”, em uma igreja lotada, com o som envolvente, pessoas pulando, com várias vozes reunidas, é fácil. Mas dançar sobre a dor sozinho no quarto, numa sala de hospital, em um velório ou enterro, pouco antes de uma difícil cirurgia é algo muito mais complicado.

Temos que reconhecer a presença do Pai em nossa vida em todos os momentos. Seja na hora da angústia, seja na hora da alegria. Não dá pra viver sempre em inconstância. O caminho do equilíbrio é sempre o ideal, é nele que se dá a experiência de usufruir da Graça e do Amor de Deus, em consciência, todos os dias.

Viver nos extremos é arriscado. Na hora que a dor chega em sua face mais cruel, a gente pode não ter força alguma pra suportar. Meu desejo, pra mim e pra você, é que sempre que alguém nos perguntar “onde Deus está?” possamos enxergá-lo, conscientemente, acima de toda e qualquer circunstância momentânea e temporal, seja ela boa, perfeita e agradável aos nossos olhos humanos ou não!

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